domingo, 19 de fevereiro de 2012

Um bom co-piloto

Jaime é motorista de autocarros em Madrid. No recente encontro com o Prelado do Opus Dei em Vistalegre (Madrid), contou como tinha conhecido S.Josemaria e o Opus Dei.

Nasci numa pequena aldeia de Castela, na província de León, no seio de uma família cristã. Fui filho único e aos catorze anos senti que Deus me chamava para algo mais. Falei com o meu pai, mas a sua negativa foi rotunda. No ano seguinte faleceu. 

Como eu continuava com as minhas inquietações, voltei a falar do tema à minha mãe, que me deu liberdade para fazer o que quisesse. No entanto, a partir desse dia não parava de chorar juntamente com a irmã, que tinha vindo viver connosco. Ao perguntar-lhes o motivo, disseram-me que as entristecia muito ficarem sozinhas. Pareceu-me que era a resposta de Deus de que não era esse o caminho que queria para mim e fiquei definitivamente com a minha mãe na aldeia, assumindo um cristianismo que entendia como de segunda categoria. 

Nos anos seguintes fiz uns cursos de mecânica de automóvel, comecei a trabalhar num oficina e a sair com a rapariga mais bonita da aldeia, com quem felizmente me casei ao fim de algum tempo. 

Alguns conterrâneos meus tinham emigrado para Madrid e chegou-me a notícia de que necessitavam lá de mecânicos, numa empresa de autocarros. As condições eram boas, e por isso mudámo-nos para a capital e comecei a trabalhar nas oficinas dessa companhia. Continuava a ir à Missa aos domingos, mas pouco mais. No entanto, Deus não deixava de guiar a minha vida, sem que eu me apercebesse.

Passaram os anos, e a empresa foi comprada por outra maior. Pensei que nesse tipo de fusões, sobra sempre gente, e assim para aumentar as minhas opções, tirei a carta para poder conduzir autocarros. Com efeito, na reestruturação da empresa, passei a ser motorista de autocarros.

Nesse posto, todos rodamos nos turnos de manhã, da tarde ou da noite, no descanso e serviço de fins-de-semana e também nos percursos que nos indicam.

Um dia entrou no autocarro uma pessoa que me deu uma pagela de S.Josemaria. Agradeci-lhe e guardei-a sem grande interesse. Passaram os dias, os turnos, os percursos… Ao fim de algumas semanas voltou a entrar e perguntou-me se tinha rezado a pagela. Tive que lhe dizer a verdade: nunca mais me tinha lembrado dela. Voltou-me a recomendar que a usasse para rezar pelas minhas necessidades. Ao chegar a casa peguei-lhe e rezei-a pela primeira vez. Chamou-me a atenção o texto da oração e a breve biografia que tinha no verso, e voltei a usá-la noutros dias.

Passadas umas semanas, essa pessoa voltou a entrar no meu autocarro. Com alívio pude dizer-lhe, desta vez, que sim, que tinha rezado a estampa. Tirou então do bolso um exemplar de Caminho e disse-me: olhe, leia este livro, que lhe fará muito bem. Ao terminar o meu serviço regressei a casa e comecei a lê-lo. A mensagem que continha era desconhecida para mim, e impressionou-me profundamente: eu podia ser santo com a minha mulher e filhos e a conduzir o meu autocarro! 

Demorei algum tempo a ler o livro todo, e agora era eu que procurava com impaciência entre os passageiros que entravam no autocarro. A estatística funcionou e ao cabo de umas semanas essa pessoa voltou a entrar no autocarro. Pude dizer-lhe que Caminho me tinha entusiasmado, ao que ela respondeu tirando da carteira outro livro de S.Josemaria, que também me emprestou, bem como, mais tarde, uma biografia. A minha alegria e assombro com o que lia ia aumentando. 

Pus-me em contacto com um Centro da Obra e comecei a ir aos meios de formação. No demorou muito até ir a um retiro, onde vi com clareza como Deus me tinha levado pela mão durante a minha vida, tinha-me levado no Seu autocarro, até me mostrar qual era a Sua vontade para comigo. Pouco depois pedi a admissão no Opus Dei como supranumerário. 

Desde então procuro ver Deus em todos os meus passageiros, conduzir e tratá-los com um sorriso, ainda que, por vezes, pelo seu comportamento pareça que o não merecem.

Costumo colocar um pequeno quadro de S.Josemaria por cima do tablier dos comandos, para que me ajude. Um dia ouvi atrás de mim uma voz que me disse: que bom co-piloto o senhor tem! Outro dia, numa das viagens às primeiras horas da manhã, entrou uma senhora, sentou-se e pouco tempo depois veio com uma imagem de Nossa Senhora e disse-me: “esta é a imagem que tens que pôr no quadro, porque Ela é a Mãe de todos, não é como esse aí, que só é Pai de alguns”. Disse-lhe também: “mas acontece que eu sou seu filho e com respeito a Nossa Senhora, olhe onde a tenho”. E indiquei-lhe uma imagem à minha esquerda. A senhora sorriu, com satisfação, deu meia volta e foi para o seu lugar.

Noutro dia entrou no autocarro um inspetor da companhia, recém-nomeado. Começámos a falar e ao ver o quadro de S.Josemaria, começou a fazer-me perguntas sobre religião, a Igreja e a Obra. Ia-lhe explicando como podia, mas com tão pouco êxito que começou a implicar com tudo e com todos. Como não era o melhor local e momento e ele não parava, procurei mudar de conversa. Descobri que gostava de passear, e propus-lhe um passeio num domingo de manhã. Assim fizemos e a partir daí temo-lo repetido mais vezes. Num desses dias perguntou-me se iria à Missa. Respondi-lhe que sim e então perguntou-me se me podia acompanhar. Perante o meu gesto afirmativo, pegou no telefone, ligou à mulher e disse-lhe que preparasse o filho (tem dois anos), porque iam comigo à Missa.

Uma das carreiras que faço passa perto do aeródromo de Quatro Ventos e durante os dias da recente Jornadas Mundiais da Juventude calhou-me trabalhar. Quer os passageiros habituais, quer eu próprio estávamos encantados com o espírito alegre, educado e colaborador desses jovens. Por exemplo, mesmo que o autocarro fosse bastante cheio, quando chegávamos a uma nova paragem levantavam-se dos assentos e apertavam-se mais para que pudessem entrar mais passageiros.

Consegui bastantes pagelas de S.Josemaria em vários idiomas, para as dar a esses jovens. As primeiras que desapareceram foram as que estavam em inglês, e as de francês e castelhano também voaram rapidamente. Mas chegou o último dia e restava-me um bom monte delas em polaco, porque não tinha podido dar nenhuma. Pedi a S.Josemaria que fizesse algo, e não falhou: exactamente na última viagem da manhã, no início da carreira, apareceu um grupo de jovens com T-shirts brancas onde estava escrito algo como “Polska”. Chamei-os e confirmei, como pude, que eram polacos. E lá foram as pagelas.

Um último episódio. Há pouco tempo entrou no autocarro um casal jovem. Ao princípio falavam inglês, mas depressa passaram para o castelhano, e fiquei surpreendido ao ouvir que falavam da Bíblia e de Deus. No dia seguinte o rapaz voltou a entrar no autocarro, mas desta vez sozinho. Disse-lhe que na véspera tinha sido eu que o tinha transportado, e que lhe queria dar uma pagela de S.Josemaria. Olhou para ela e perguntou-me se eu era católico. Ele era protestante, e no final do verão regressava à sua cidade natal nos Estados Unidos, para iniciar estudos para ser pastor da sua igreja. Pensei que me devolveria a pagela, mas não, levou-a. Confio que S.Josemaria fará o resto, como sempre. [Ir para o topo]

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